Quero partilhar, com os membros do nosso clube, a minha experiência na bolsa lisboeta que, vale o que vale...
Sempre fui 'alérgico' a investimentos nas bolsas de valores e a especulações contudo, em meados dos anos 90, comecei a investir, o 'bichinho' pegou e nunca mais deixei de investir ainda que, por vezes, faça intervalos grandes fora da bolsa. Chamo investir e não 'jogar na bolsa' porque sou de comprar e manter as acções por longos períodos de tempo, não sou de comprar e vender, comprar e vender, comprar e vender, tipo especulador.
Com a crise das tecnológicas no início do milénio, cheguei a estar a perder 55% do valor investido, assustei-me a sério mas, felizmente, tive o bom senso de saber esperar e, em finais de 2006, início de 2007, consegui recuperar tudo e ainda ganhar. Foi o que chamei de 'travessia do deserto' mas, reconheço trouxe-me grandes ensinamentos e são essas 'lições' que vou partilhar convosco.
Cheguei a investir em bolsas estrangeiras (Madrid, Paris, Frankfurt e Nova Iorque) mas desisti de o fazer porque a fiscalidade é complexa, pagamos lá, pagamos cá e a declaração do IRS fica demasiado complicada no preenchimento.
Decidi então ficar-me pelo nosso PSI, bolsa sem massa crítica, com pouca expressão e número reduzido de empresas.
As regras que sigo são poucas e muito simples, apenas 4, (A) a 1ª e a mais importante, nunca investir dinheiro que sabemos vir a precisar a curto/ médio prazo, pelo menos nos próximos 5 anos, senão mais e até sem limite temporal, (B) investir em empresas que estiveram, estão e, com elevada probabilidade, vão estar no futuro, (C) que pagam dividendos atractivos e (D) saber esperar. Contudo, nenhuma das regras é infalível, veja-se o caso da Portugal Telecom e do BES...
Para cumprir com aquelas regras, das 15 cotadas actualmente no nosso PSI, apenas 3, do meu ponto de vista, valem a pena e justificam o risco: a REN, a EDP e a Navigator.
A REN é a nº 1 porque não tem concorrência e tem o monopólio assegurado pelo Estado, até 2057 para a electricidade, e até 2048 para o gás. O ponto negativo é que tem que pagar a CESE (contribuição extraordinária para o sector energético) mas ainda assim paga um dividendo muito interessante e seguro. Quando a REN estoirar, já tudo o resto estoirou há muito tempo...
A Navigator é a nº 2 porque paga um dividendo generoso e tem sólidas bases, além de estar num sector primordial onde tem sabido diversificar, de forma inteligente e consolidada.
A EDP é a nº 3, só não é a nº 2 porque o dividendo é menos generoso, se fosse seria ela a ocupar o 2º lugar. Tem 75% da EDP Renováveis uma empresa que opera num sector, com grande futuro, o das energias limpas e sustentáveis. Não invisto directamente na EDP Renováveis porque paga um dividendo miserável e tem um accionista fortemente maioritário. Prefiro investir nela indirectamente através da EDP que tem o seu capital muito mais repartido em bolsa (o accionista maioritário é a China Three Gorges com 20,22% e a seguir a Blackrock com 10%).
Quando, por qualquer motivo (guerras, covids, alterações climáticas, crises económicas, declarações políticas, etc.) as bolsas corrigem fortemente, há que ter o dom de saber esperar porque o nosso dinheiro não está parado e vai rendendo um dividendo atraente enquanto esperamos, com muita calma, que os mercados recuperem.
Das restantes cotadas temos algumas numa 'zona cinzenta', que podem ter algum interesse para quem queira correr um risco um pouco maior, caso da Altri e Greenvolt, BCP, GALP, JM, NOS e Sonae.
As restantes 4, a meu ver, não têm interesse. O valor da Semapa está na Navigator, os CTT e a Mota Engil são demasiado voláteis e a Corticeira Amorim é 'demasiado' familiar.
Como referi no início, vale o que vale e retrata a minha experiência e as minhas ideias de investimento na bolsa.
A todos, o meu abraço e votos de uma Santa e Feliz Páscoa.
Ruy Ribeiro
932 223 222
1-Existem posições que concordo e opiniões que não partilho.
2-É uma situação normal; pois não vivemos uma situação de pensamento único.
3- Concordo totalmente que o mercado acionista não é um casino.
4-O investimento pela via pessoal em mercados estrangeiros envolve complexidade fiscal em matéria de IRS, razão pela qual os fundos de investimento vêm ganhando espaço crescente.
5- Nunca devemos desinvestir em situações de pânico ou quebra acentuada das cotações, designadamente bear market, crashs, marés vermelhas, situações de sell off. É preciso ter nervos de aço. O principio é comprar em baixa e vender em alta. A dificuldade reside em identificar os pontos de inflexão.
6-Relativamente às regras seguidas tenho alguns comentários críticos sobre as posições assumidas e truncadas a cor.
(A) Nunca investir dinheiro que sabemos vir a precisar a curto/ médio prazo, pelo menos nos próximos 5 anos.
Existem e formas de negociar no mercado acionista.
1ª - Position trade (Perspetiva de médio / longo prazo)
2ª - Swing trade (Perspetiva de curto / médio prazo)
3ª - Day trade (Perspetiva imediatista)
A swing trade é muito importante face ao seu horizonte temporal, permite potenciar ganhos com o carater de intermitência anual do PSI (alternância anual de crescimentos e quebras) nos últimos 10 anos.
Recordo que temos vivido bear`s market com periocidade bianual (2020, 2018, 2016, 2014……).
Nesta oportunidade, referir atenção especial a 2022!
É muito importante estudar PONTOS DE INFLEXÃO que vou abordar no próximo e-TALK da Maxyield.
(B) investir em empresas que com elevada probabilidade vão estar no futuro.
Sim, mas por vezes é difícil descortinar!
Mas, muitas vezes é difícil ter conhecimento dessas empresas face às narrativas cor de rosa que nos contam as Administrações e encobrimento de disfunções (ex-Grupo BES, Telecom Portugal por exemplo)
Existem situações de difícil previsão (exemplo: Sonae Capital que saiu do mercado por OPA do acionista dominante e poderia ter sucedido o mesmo com a Semapa. Vidé o caso da Brisa)
Nalguns casos a situação é mais obvia como é o caso de implosão empresarial da Pharol com total passividade da Administração.
(C) Investir em empresas que pagam dividendos atrativos
Mas o dividendo não é tudo. Existe vida parta além do dividendo.
Conheço muitas cotadas que pagam altos dividendos com quebras consistentes de performance nas cotações.
A TSR é o caminho do céu!
Tenho muito receio de PAYOUT`s superiores a 100% de forma continuada. Emregra sofrem as cotações.
Quando a ação entra no período ex-dividendo a sua cotação sofre uma correção em baixa do seu valor, em torno do dividendo bruto distribuído.
Por outro lado, a distribuição de dividendos não é neutra em termos fiscais para um pequeno acionista, pessoa singular. Um grande acionista está defendido contra a dupla tributação e pode escolher uma sede de conveniência.
Nestas circunstâncias, os dividendos afetam negativamente o Priceend em torno do montante bruto da distribuição realizada, ficando pago o imposto referente aos Dividends.
(D) Saber esperar.
Relativamente ao booket de honra que o Rui escolheu existe uma grande heterogeneidade.
EDP – Preço alto
REN – Preço razoável
Navigator- Preço tendencialmente baixo
A zona cinzenta que definiu também apresenta boas oportunidades.
J.Martins – Preço alto
Sonae - Preço tendencialmente baixo
ALTI – Preço razoável
NOS– Preço razoável
BCP– Preço razoável
GALP - Preço tendencialmente baixo
A parte sem interesse merece os seguintes comentários
1- A corticeira Amorim tem rentabilidade elevada, fraco dividendo, PER elevado e PBV alto, apresentando um preço tendencialmente alto.
2- A CTT tem rentabilidade elevada, fraco dividendo, PER médio / alto e PBV muito elevado, apresentando um preço tendencialmente alto.
3- A Semapa tem excelente rentabilidade, taxa de dividendo médio /alta, apresentando um baixo preço.
4- A Mota Engil está em fase de regresso aos dividendos, com a entrada do parceiro chinês, estando com um PER elevado e um PBV médio, apresentando um preço razoável. Está presentemente abaixo da LINHA de AGUA relativamente ao limite de 100 M€ em free float para integrar o PSI, podendo vir a ser afetada na próxima revisão geral.
Desejo fazer uma referência às empresas que saíram do ex-PSI 20 para o 2º mercado e que representam 30% deste.
Ramada –empresa «amiga» dos acionistas
Pharol –empresa em processo de implosão
Ibersol –empresa em reencontro com os resultados após as fortes consequências da crise de saúde pública.
NovaBase –empresa «errática» em matéria de dividendos, boa rentabilidade, PER alto e médio alto.
Elementos adicionais de análise
Para complementar as observações feitas temos de ter em consideração
§ Setores de atividade, importância do mercado doméstico e internacionalização de atividades.
§ Free float e liquidez
§ Peso direto e indireto familiar no capital das sociedades cotadas.
Superior a 50% (Sonae, J. Martins, Corticeira Amorim, Semapa e Navigator)
Inferior a 50% com influência determinante (Galp, Mota-Engil e NOS)
EM SINTESE
ESTUDAR, ACOMPANHANDO OS FUNDAMENTAIS DAS COTADAS E COMPORTAMENTO NO MERCADO, É UM PROCESSO PRUDENTE PARA INVESTIR COM SUCESSO NO MERCADO BOLSISTA, QUE OFERECE NIVEÍS MAIS ELEVADOS DE RENTABILIDADE DAS APLICAÇÕES.